O que aconteceu na Argentina?

Editado por Lorena Viñas Rodríguez
2017-10-24 11:29:30

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Muitos não entendem o resultado das eleições legislativas na Argentina, onde o governista partido Cambiemos, do presidente Maurício Macri, consolidou sua maioria nas duas Câmaras apesar da evidente queda da qualidade de vida de uma fatia da população por causa dos programas neoliberais ali aplicados e a repressão praticada contra o movimento social.

Com efeito, é interessante que um país onde o custo de vida e o desemprego dispararam, avança a privatização dos bens públicos e a dívida elevou-se a limites perigosos, a maioria tenha votado justamente nos responsáveis por esta situação.

Somemos a isto o escândalo em torno do desaparecimento do jovem ativista Santiago Maldonado, cujo corpo sem vida foi achado poucos dias antes dos pleitos em um lugar que tinha sido vasculhado anteriormente pela polícia, sem ter encontrado nada.

Algumas considerações nossas sobre o acontecido nestas eleições. Vamos começar recordando uma frase da ex-presidente Cristina Fernández, que foi eleita senadora com mais de três milhões de votos.

A representante do partido Unidad Ciudadana afirmou que estamos diante da maior e mais forte concentração de poder jamais vista desde o restabelecimento da democracia no país.

Este é um dado que deve ser levado em conta na hora de analisar a situação, até porque por trás de Cambiemos há extraordinários poderes internos e externos nada desprezíveis.

As maiores corporações nacionais e internacionais estão fazendo grandes negócios na Argentina em parceria com a direita regional e sob o amparo da hegemonia dos Estados Unidos, principal interessado na consolidação de Macri no poder.

Além disso, conta com o apoio incondicional do exército, onde permanecem comandos ligados às ditaduras e beneficiados com a desagregação de instituições defensoras dos direitos humanos, o resgate da memória histórica e o castigo aos culpados de sumiços, assassinatos e torturas.

Todo esse poderoso aparato conta com o apoio dos grandes meios de comunicação, principalmente do grupo Clarin, que em quase todo o interior do país é o único mecanismo de informação escrita, radiofônica e televisiva ao que acessa o público. A versão que se lê, escuta ou olha do que se passa na Argentina, na região e no mundo, passa pelos filtros editoriais, políticos e ideológicos destes consórcios midiáticos.

Por outro lado, continuam as fraturas na esquerda e nas organizações progressistas. Como ocorreu nas presidenciais, houve candidatos que se apresentaram por sua conta, mesmo sabendo que perderiam, ao invés de buscar alianças.

Em outras palavras, os interesses pessoais prevaleceram sobre a consolidação de um programa nacional que pudesse oferecer uma alternativa. Nos próximos anos, será a Unidad Ciudadana de Cristina de Kirchner a única oposição a levar-se em conta no Senado e na Câmara de Deputados. Da responsabilidade e energia com que desempenhe seu papel, vai depender muito o futuro do país, especialmente nas eleições presidenciais de 2019 na Argentina. (Guillermo Alvarado)

 



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