Haiti: feridas que não cicatrizam

Editado por Lorena Viñas Rodríguez
2020-01-14 11:55:57

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Por Guillermo Alvarado

Passaram-se dez anos após o devastador terremoto de 7,3 graus de magnitude que destruiu boa parte do Haiti provocando a morte de 326 mil pessoas e um número similar de feridos. Contudo, muitas das feridas causadas pelo evento da natureza ainda não cicatrizaram.

Era por volta das 17 horas, hora local, de 12 de janeiro de 2010 quando a terra começou a tremer e transformou em escombros tanto humildes moradias quanto fortes e emblemáticos prédios como o Palácio de Governo e a Catedral de Porto Príncipe.

Aquele desastre revelou todas as carências de mais de dois séculos de exploração, intervenções e injustiças provocadas por um sistema que nunca perdoou ao Haiti ter sido a primeira revolução de escravos vitoriosa.

Em 1804 se ergueu como o primeiro país criado na América Latina e o Caribe por escravos negros num mundo dominado por potências coloniais brancas, que não iam deixar as coisas assim e fariam que pagasse muito caro seu atrevimento.

Além de apagar dos livros de história a gesta revolucionaria haitiana, a França – metrópole colonial – obrigou o país caribenho a assinar um oneroso acordo segundo o qual para que sua independência fosse reconhecida teria de reduzir em 50 por cento os impostos sobre as importações francesas e pagar uma indenização de 150 milhões de francos de ouro.

Esse montante equivaleria hoje em dia de 12 a 20 bilhões de dólares e foi, naquele tempo, uma pedra pesada no pescoço da jovem nação que eliminou qualquer tentativa de desenvolvimento.

Estrangulada economicamente, não teve alternativa senão endividar-se com EUA e abrir as portas para as empresas americanas que chegaram a ter o controle do Banco Nacional e depois impuseram uma intervenção de uns 20 anos de duração, de 1915 a 1934.

A isto devemos adicionar a corrupta ditadura dos Duvalier, pai e filho, de 29 anos de duração.

Não foi diferente o modelo que a comunidade internacional aplicou para utilizar a ajuda comprometida na reconstrução. Como admitiu o presidente Jovenel Moise, um rico exportador de bananas, o governo não teve nenhum controle sobre o dinheiro que entrou lá, nem como foi utilizado.

Estima-se que chegaram uns 10 bilhões de dólares, a maior fatia desse dinheiro acabaram sendo tragados pela burocracia, contratos exorbitantes e a corrupção. Por isso, os mais necessitados continua vivendo na indigência.

A única ajuda séria e bem organizada que teve o Haiti já estava lá antes do terremoto: a assistência médica cubana, a primeira em dar atenção aos feridos sem pedir em troca um centavo das autoridades locais, nem da comunidade internacional. O resto funcionou pouco, mal e tarde.



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