Chile não se rende ante a impunidade

Editado por Lorena Viñas Rodríguez
2018-08-16 12:23:36

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Foto: Archivo.

Por: Maria Josefina Arce

O governo do multimilionário Sebastián Piñera foi duramente criticado nas últimas semanas por decisões que pretendem minimizar ou ignorar a dor e o horror em que o Chile viveu mergulhado ao longo de 17 anos durante a ditadura do general Augusto Pinochet.

Há duas semanas foram colocados em liberdade sete repressores, e a resposta da população não se fez esperar: duros questionamentos e grandes protestos contra a decisão que pretende ignorar esse triste capítulo da história do país e que ampara a impunidade.

Nesta semana, começou uma manifestação em frente ao Tribunal da Justiça, em Santiago, a capital, que contou com a participação de vários legisladores. Os manifestantes repudiaram a decisão da Suprema Corte de Justiça de soltar torturadores e assassinos.

O Grupo de Familiares de Executados Políticos exigiu verdade, justiça e reparação, que passa por uma sentença justa pelo dano e dor causados durante muitos anos a tantas famílias chilenas.

Como se não bastante a afronta provocada pela soltura de assassinos, o presidente Piñera nomeou Maurício Rojas como ministro da Cultura. O sujeito durou apenas quatro dias no cargo tamanha foi a rejeição da sociedade às suas palavras insultantes pronunciadas em 2015 contra o Museu da Memória e os Direitos Humanos.

Nesse lugar são visíveis os métodos de tortura, desaparecimento e assassinatos cometidos pela ditadura de Augusto Pinochet, que governou o país de 1973 – após ter dado um golpe militar contra o presidente constitucional Salvador Allende – até 1990.

O museu foi inaugurado em 2010 para não esquecer uma época escura e triste no Chile, para homenagear as inúmeras vítimas e, principalmente, para que esses crimes não se repitam nunca mais.

Todavia, quem fora ministro por apenas quatro dias comentou o seguinte: “ não é um museu, é uma montagem cujo propósito, e consegue atingi-lo, é chocar o espectador, deixá-lo atônito, impedir que raciocine”.

As palavras pronunciadas por Rojas foram reproduzidas pela imprensa local imediatamente após ele ter assumido o cargo de ministro e as críticas contra o governo de Sebastián Piñera choveram. Aliás Piñera, embora aceitasse a demissão, tentou minimizar a gravidade das palavras do ex-ministro da Cultura.

Ignorar o sofrimento, o medo, o terror e a tristeza com que convivemos tantos anos, é uma ofensa muito grave, sentenciou Joan Turner Jara, viúva do célebre cantor e compositor chileno Victor Jara, torturado selvagemente e assassinado. Desfecharam no seu corpo 44 balas. Víctor Jara é um ícone para centenas de intelectuais cujos direitos humanos foram violados durante a ditadura de Pinochet.

Para muitos chilenos, a conjuntura atual é um aviso, porquanto ainda há um setor político que continua negando as sistemáticas violações dos direitos humanos que sofreu o país de 1973 a 1990.

São mais e mais os apologistas da ditadura que elogiam a figura de Pinochet e ignoram os crimes de lesa humanidade cometidos durante essa etapa.

Faltam poucas semanas para o 45o aniversário do golpe de Estado perpetrado contra Salvador Allende. Os últimos acontecimentos no Chile convocam a refletir e não esquecer aqueles tristes anos que deixaram mais de 40 mil vítimas, incluídos mil desaparecidos.



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