Parque da Fraternidade

Editado por Irene Fait
2022-02-12 17:55:22

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Em 1790, durante a dominação colonial espanhola, o marquês de La Torre, então Capitão Geral de Cuba, deu ordens para que o terreno que hoje ocupa a Praça da Fraternidade, em Havana, fosse destinado ao Campo de Marte, onde seriam realizados exercícios e paradas militares. O projeto foi do engenheiro belga Agustín Cramer.

O crescimento da cidade e a demolição das muralhas que a rodeavam levaram ao traçado das primeiras ruas. O governador colonial, Don Miguel Tacón, mandou remodelar a área, delimitando o perímetro com uma grade de ferro. Esse foi o momento de maior esplendor do lugar. No final do século XIX veio sua decadência, provocada pela guerra de independência no país.

Com o nascimento da República, em 1902, foram construídos jardins, caminhos e fontes, porém, o famoso furacão de 1926 destruiu tudo. Ao chegar ao poder o ditador Gerardo Machado, criou-se um plano diretor para modernizar Havana e fazer dela uma das principais cidades do continente. O arquiteto e paisagista francês Jean-Claude Nicolas Forestier foi convidado para construir um parque de lazer no outrora Campo de Marte. Esse foi o lugar escolhido para a Praça da Fraternidade Americana, inaugurada em 1928, ano em que foi realizada nesta capital a 6ª Convenção Pan-americana.

O secretário de Obras Pública na época, Carlos Miguel de Céspedes, escolheu uma ceiba (árvore alta, de tronco largo e vigoroso e raízes profundas) para ser o centro da praça, simbolizando a força sossegada e a tradição. Segundo contam as histórias locais, procurou-se uma planta que tivesse a idade da República instaurada em 1902. Ninguém sabe como, uma família do povoado de San Antonio de losBaños foi convencida para entregar uma ceiba com essa característica, que tinha a idade do filho mais velho. Com certeza, o poder e os recursos do secretário Céspedes foram muito convincentes nessa hora.

A cerimônia da plantação da árvore ocorreu em 14 de abril de 1928. Os 21 representantes das repúblicas do continente americano, todas independentes nesse tempo, chegaram trazendo terra de lugares históricos de seus países: Chapultepec, do México, Mont Vernon, dos EUA, e do túmulo do Libertador Simón Bolívar, da Venezuela. Tudo veio em recipientes dignos do tributo. A terra do Peru, por exemplo, veio num cofre de prata lavrada.

Para proteger a ceiba foi colocada uma bela grade, na qual foram gravadas palavras de José Martí, o grande patriota, poeta e Herói Nacional: “É hora de contar e da marcha unida, e temos de andar em quadro apertado como as raízes dos Andes. Os povos se unem com laços de amizade, fraternidade e amor”.

A Ceiba da Fraternidade se mantém ainda hoje forte e sadia. Quem chegar a seu pé pode ler: “Nós, representantes de todos os povos da América, solenemente prometemos trabalhar pela fraternidade americana”, e logo a seguir a lista dos 21 países que participaram da iniciativa.

Na praça foram colocados bustos representativos dos próceres que forjaram a história deste continente: Simón Bolívar, da Venezuela, José de San Martín, da Argentina, Benito Juárez, do México, José Artigas, do Uruguai, Francisco Morazán, de Honduras, Alexandre Petion, do Haiti, e Abrahão Lincoln, dos EUA.

Após o triunfo da Revolução liderada por Fidel Castro em 1959, a praça não teve grandes transformações. Porém, converteu-se num centro fundamental da cidade. No começo deste milênio, o Escritório do Historiador de Havana começou os trabalhos de restauração da iluminação, áreas verdes e bancos públicos.

Hoje, a Árvore da Fraternidade é menos conhecida que a ceiba do Templete, construído para lembrar a fundação da cidade em 1519, mas também é venerada. Cabe recordar que essa planta é sagrada nas religiões afro-cubanas. Segundo a crença popular, entre sua folhagem vive Iroko – orixá maior – e significa um caminho para Obatalá. Seu tronco é a bengala de Olofi.

Rodeada pelo Capitólio Nacional, joia da arquitetura cubana, a Fonte da Índia, uma bela escultura da Nobre Havana, o Palácio de Aldama, de estilo colonial, e o restaurado Hotel Saratoga, a Praça da Fraternidade, sua história e espírito, serão conservadas para o futuro.



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