A conquista interminável

Editado por Lorena Viñas Rodríguez
2020-10-13 10:08:42

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Guillermo Alvarado

Sem dúvida, o dia 12 de outubro de 1492, quando os europeus irromperam em nosso continente, é uma data de grande transcendência para nossa espécie. De um lado, pôs fim ao regime feudal. Do outro, abriu a porta à sociedade industrial e capitalista, porém a um enorme custo humano.

De acordo com o escritor argentino Bernardo Beksler, quando Cristóvão Colombo pôs os pés nestas terras se desencadearam impressionantes acontecimentos que transformaram e dinamizaram o mundo como se conhecia até então, especialmente devido ao saque das riquezas que existiam aqui.

Nos primeiros 150 anos de conquista, explica, foram transportadas à Espanha 17 mil toneladas de prata e 200 de ouro, que potenciaram o incipiente trabalho comercial e manufatureiro europeu e abriram as comportas da Revolução Industrial e o desenvolvimento capitalista.

Tais eventos, que vários países do velho continente comemoraram no dia 12 de outubro, foram causa de um desastre social, cultural e humano com efeitos negativos que cinco séculos mais tarde ainda cobrem de luto povos de vários continentes.

Ideólogos dos países beneficiados trataram de minimizar, disfarçar ou justificar a morte de milhões de habitantes e o saqueio do continente americano.

Dizem que “descobriram” esta porção do planeta, porém aqui havia povos que tinham feito isso milhares de anos antes, que se desenvolveram e construíram civilizações assombrosas com conhecimentos próprios.

Menos sustento teve a teoria do “encontro das duas culturas”, como se a conquista tivesse sido um acontecimento cordial, de mútuo acordo.

Cem anos depois da chegada de Colombo, dos 70 milhões de habitantes que havia no continente, só ficaram três milhões e meio.

A acadêmica Susanne Jonas, citada por Noam Chomksy em seu livro “Ano 501, A conquista continua” , explica: em tempo algum antes da irrupção europeia, os habitantes originais tinham sofrido tantas privações sistemáticas como ocorreu depois.

Seis sétimos da população indígena da América Central e México morreram de 1519 a 1650, assinala Jonas.

A questão não era apenas eliminar as pessoas, mas destruir sua cultura e apagar seus registros históricos para impor os do conquistador.

O genocídio foi tão brutal que, de repente, não sobrou mão de obra para explorar as riquezas naturais deste continente generoso em recursos, o que deu lugar a outro crime: a caçada e o comércio de escravos na África, uma nova fonte de riquezas para as metrópoles europeias.

Do lado de cá do oceano Atlântico, portanto, não temos nenhum motivo para comemorar o dia 12 de outubro, em todo caso dia de luto e de compromisso para recuperar nossa memória.

 

 



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