
Bases militares estranjeras voltarão ao Equador?
Por María Josefina Arce
Em 2009, a questionável base de Manta foi fechada e os soldados norte-americanos lá destacados foram embora. O Equador recuperou sua soberania total e fechou as portas para os interesses estrangeiros.
A nova Constituição, aprovada por referendo em 2008 pelo então presidente Rafael Correa, estava sendo cumprida, e seu artigo 5 proibia o estabelecimento desses enclaves em território equatoriano.
Mas o presidente Daniel Noboa, escudado pelo alto nível de insegurança no país andino, uma das principais preocupações dos cidadãos, e com o argumento de combater o crime organizado, voltou a falar na presença militar estrangeira em solo equatoriano.
Em outubro do ano passado, Noboa propôs uma reforma constitucional para permitir bases estrangeiras em território nacional e a mesma foi aprovada nos últimos dias pela Assembleia Nacional.
Organizações sociais, políticas e de direitos humanos questionaram a reforma constitucional e lembraram que em nenhum país a presença de militares estrangeiros deu os resultados esperados na luta contra o crime organizado.
O Movimento de Unidade Plurinacional Pachakutik destacou que, em outros países, essas forças também foram usadas para reprimir movimentos sociais e opositores políticos, bem como para proteger territórios entregues a empresas estrangeiras.
O partido Revolución Ciudadana (Revolução Cidadã), por sua vez, enfatizou que reformar esse artigo da Constituição significa desmantelar a cultura de paz e abrir o país para confrontos geopolíticos estrangeiros.
A base de Manta, onde as tropas dos EUA ficaram estacionadas por 10 anos, faz recordar maus tempos para muitos. Os habitantes da área testemunharam o aumento da prostituição, a subida do custo de vida e o naufrágio de barcos de pesca.
As promessas de emprego e melhores condições de vida para os habitantes da área nunca foram cumpridas.
Os especialistas insistiram em muitas ocasiões que a segurança que os equatorianos almejam não será alcançada somente com uma estratégia militar.
São necessárias políticas sociais que levem a melhores condições de vida, incluindo acesso a trabalho, educação, saúde e água potável, entre outros direitos humanos.
O Tribunal Constitucional terá de decidir sobre a reforma, que será submetida ao escrutínio dos cidadãos em um referendo.